Perjúrios condenados


Falsas acusações de estupro provocam prejuízos imensos para os acusados e para as reais vítimas de violência sexual.[

Um livro sobre o caso Roger Abdelmassih traz relatos inéditos sobre os bastidores do escândalo e mostra que o médico está condenado pelo que fez, mas – principalmente – pelo que NÃO fez.


Na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália, estudiosos de criminalística estão desenvolvendo meios para impedir as consequências mais drásticas das falsas alegações de estupro. Técnicas de interrogatório  e apreensão do telefone celular da pessoa que denuncia já fazem parte de um extenso protocolo de ações preventivas [1].

Acusadoras ontem, presidiárias hoje. É o caso da professora Heidi Külser que denunciou seu colega Horst Arnold por estupro anal, na sala do laboratório de biologia da Georg August Tin School, em Reichelsheim, na Alemanha, no ano de 2001. O escândalo arruinou a vida e a carreira do professor, ele foi condenado e ficou preso por cinco anos. Em 2012, o caso foi revisto. A acusadora virou ré, ela é mitômana, queria o cargo do acusado, preparou uma cilada: não houve estupro. A professora está na prisão desde 2014. A juíza pediu desculpas à família de Arnold pelo erro cometido pelo judiciário em 2001. Heidi foi a primeira mulher a ser condenada por perjúrio na Alemanha [2].

Em agosto será lançado o filme sobre o caso de Brian Banks, astro do futebol americano, que cumpriu 5 anos de prisão por ter sido falsamente acusado de estupro. O caso foi revertido, a acusadora confessou que mentiu.

Esse e outros crimes de falso testemunho que condenaram mulheres na Europa e nos EUA; estudos que classificam os motivos de falsas alegações de estupro [3]  (criminalistas e psicólogos holandeses os dividem em 7 categorias); centenas de trabalhos científicos que criaram protocolos para o uso de anestésicos em cirurgias (por conta de alucinações eróticas, desde o advento do Propofol) [4]; o bullying virtual e os erros cometidos pela imprensa sensacionalista são elementos presentes no livro ‘Tudo por um Monstro – O outro lado do caso Roger Abdelmassih’, escrito pela jornalista Angela Tucker.

Ângulos inéditos da história revelam bastidores do maior escândalo sexual do país, com documentos processuais, links das entrevistas e reportagens, cerca de 300 referências bibliográficas e prints de conversas nas redes sociais que denunciam armações difamatórias entre as vítimas mais famosas. Mais a análise acurada dos depoimentos de 22 acusadoras às autoridades e à imprensa que, no mínimo, põe em dúvida os seus relatos.

Todas as denunciantes-vítimas que se agruparam, organizaram e protagonizaram a campanha contra Abdelmassih na imprensa tiveram suas narrativas comparadas às que deram na Justiça e a outras autoridades. As contradições são impressionantes, à exceção de uma vítima, a única que foi coerente em todas as instâncias judiciais e na imprensa, em 10 anos. Essa testemunha disse que algumas mulheres do grupo de vítimas mentiam, seu depoimento é um capítulo onde ela faz revelações chocantes.

O livro também mostra cinco denúncias contraditórias de mulheres que não apareceram na imprensa. Uma delas foi apaixonada pelo médico, mas o acusou de estupro (com penetração). Ela enviou uma carta de amor a Abdelmassih (dois anos depois do alegado estupro), que não foi anexada ao processo, mas está publicada em Tudo por um Monstro – a carta tem 4 páginas manuscritas.

Um dos casos mais impressionantes, no entanto, é o da mais famosa vítima do médico, Vanuzia Lopes. O livro traz evidências documentais de suas contradições, ela deu depoimentos significativamente diferentes à Justiça, ao Cremesp e à imprensa. A alguns veículos ela disse que fez o exame de delito com o esperma de Roger, logo após o estupro anal e vaginal. Às autoridades ela não diz que não viu, ou sentiu, o estupro, e que foi para casa logo após o procedimento. Em 1993, ela deu queixa de erro médico e só. A história do estupro só apareceu 16 anos depois, em 2009.

Outras alegadas vítimas de Abdelmassih mostram os seus equívocos em centenas de aparições na imprensa e nas mídias sociais, traçando seus próprios caminhos de dúvida sobre as acusações que fizeram.

Tudo por um Monstro também revela a fermentação do escândalo na internet e no Orkut, dois anos antes da eclosão do escândalo na imprensa, e incríveis erros cometidos por jornalistas na cobertura do caso, como a divulgação do tratamento do joelho de um cavalo com células-tronco embrionárias humanas – que serviu de exemplo e prova dos crimes biológicos cometidos por Abdelmassih.

A autora enfatiza:

Meu livro fala de fatos, todos documentados, e não faz a defesa de Abdelmassih, muito menos o inocenta dos delitos que o condenaram. O livro apenas revela, com evidências acessíveis, que ALGUMAS mulheres, das 57 que o denunciaram, simplesmente mentiram, outras exageraram para dar ‘mais impacto’ na imprensa e outras não tinham crime algum para denunciar o médico. São várias as acusações na imprensa (não na Justiça) de crimes biológicos e de congelamento de óvulos e embriões que Abdelmassih teria “vendido” para outros casais.

Eu acredito que o crime de falso testemunho de abuso sexual deve ser investigado e severamente punido. Caso contrário, teremos uma crise de credibilidade que vai atingir as verdadeiras vítimas de abuso sexual, o que será lamentável e para o quê, infelizmente, meu livro contribui”.

O livro conta histórias interessantes e inéditas sobre a vida pessoal de Abdelmassih – sua trajetória na medicina, seus casamentos, o ciúmes doentios da ex-mulher, os gastos exagerados, a vida de falso rico e seus namoros com pacientes. Como ele fugiu e viveu clandestinamente no Paraguai, suas experiências nas prisões, a doença e a jornada da prisão domiciliar. Uma última entrevista do médico encerra o livro.


Tudo por um Monstro – O outro lado do caso Roger Abdelmassih
1ª Edição - Maio de 2019
488 páginas
Publicado no Clube dos Autores (R$ 54,75) 
e na Amazon-Kindle ($38,22)                                                                                  
  Angela Tucker
(11) 99880 -0022


[1] Falsas acusações de estupro e ou abuso doméstico. Guia para prevenir processos corrompidos. https://www.cps.gov.uk/legal-guidance/false-allegations-rape-andor-domestic-abuse-see-guidance-charging-perverting-course
[2] Contestação no processo Heidi Külser - O remorso do judiciário’ -  http://www.spiegel.de/panorama/justiz/fall-horst-arnold-anklage-fordert-haftstrafe-fuer-heidi-k-a-921275.html
[3] Motives for Filing a False Allegation of Rape - Archives of Sexual Behavior - https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2Fs10508-017-0951-3.pdf

[4]Sexual hallucinations and dreams under anesthesia and sedation - Medical and legal aspects - Anaesthesist 2012 · 61:234–241 - https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs00101-012-1999-z


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