Um sorriso em London Bridge


Eu acompanhei o escândalo Roger Abdelmassih desde os primeiros comentários e posts difamatórios na internet, em 2007, e estava no epicentro do terremoto, em 2009. Até que chegou um ponto que eu não aguentei e saí de circulação: fui para Londres, decidi mudar a vida.

Minha amiga queria montar um serviço de catering e eu fui para dar uma ajuda no marketing e para descascar as batatas. A ideia era ter um merecido ano sabático, finalizar minha documentação de cidadania italiana e respirar ares mais frescos, longe da bagunça abdelmassiana. Eu não queria assistir aos últimos estertores daquela falência material e humana.

Naquele noite de 21 de maio de 2009, dentro do avião, pensei com as borboletas que me faziam cócegas no peito - "caramba, o que eu estou fazendo, onde estou me jogando, o que vai ser da minha vida daqui pra frente..." Dois dias depois comemorei meus 56 anos, sem minha família, sem minhas filhas, com pessoas que eu amava, que me acolheram com tanto carinho, mas que há muito tempo não via, o que não deixava de ser estranho.

Mergulhei em Londres aos poucos, timidamente, meu inglês era pequeno e lá eu convivia com a comunidade brasileira. Um dia de julho, só para variar e criar um pouco mais de aventura naquilo tudo, resolvi criar um perfil em um site de relacionamentos - escrevi qualquer coisa sobre mim, que não queria compromisso e postei a melhor fotinho. Uma semana depois, vi uma 'piscadinha' virtual que me interessou. Pisquei de volta. Trocamos e-mails.

Três dias após a piscada, falávamos no telefone e combinávamos o primeiro encontro - "because I'm not a digital guy, I want a face to face meeting". Humm, determinado o rapaz, pensei. Marcamos para a próxima quinta-feira, dia 6 de agosto de 2009, às 4 da tarde, em frente à loja Mark & Spencer na estação de London Bridge, um dos terminais de trem e metrô mais importantes de Londres. Eu nunca havia pegado um trem urbano na minha vida, não fazia ideia do que era a famosa M&S, mas fui assim mesmo, meu interesse nem era tanto o homem, mas o encontro, a oportunidade de conhecer um londrino - by myself.

Brasileiramente, me atrasei - mas comuniquei por sms o atraso de 15 minutos. No trem, a cada parada a ansiedade perguntava a quem estivesse por perto - is this London Bridge? Na terceira ou quarta vez, uma senhora muçulmana, com um sorriso de quem compreende a alma feminina, respondeu com sotaque forte: "you will know when we arrive in London Bridge". Não perguntei mais nada.

De fato, a estação é enorme, inconfundível, um mundo à parte. Só restava saber o que era e onde ficava a tal da Mark & Spencer, desembarquei e fui andando em frente, não fazia ideia de que o meu destino estava prestes a ser repaginado. Andei uns dez metros além da catraca, olhando assustada ao redor para me situar no tempo e espaço, quando um homem alto e elegante, cabelos fartos e grisalhos, vestindo um terno de linho azul escuro e um sorriso encantador, daquele que puxa os olhos azuis. Ele se colocou à minha frente, inclinando a cabeça charmosamente e eu parei.

"Cáspita, na foto ele não era tão bonito" - foi o primeiro pensamento. Aprendi o que era a M&S e saí andando com esse homem - Christopher Tucker - com quem ando até hoje. Em próximos posts vou contar um pouco mais dessa love story.


By the way: Chris Tucker, meu marido, é o artista responsável por todas as pinturas e desenhos e esculturas que ilustram as páginas e posts deste blog. 

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